Transição

" Às vezes, sinto como se eu tivesse a alma presa. Presa nos limites da minha existência, nos muros da sociedade, sem poder ver toda beleza do mundo lá fora. Presa nas minhas próprias limitações. Sinto como se eu tivesse acorrentada aqui, sem poder viver. Como se eu não pudesse esperar mais. Como seu eu não tivesse mais tempo. Há tanta coisa que eu queria ser e fazer e conhecer e ter. Parece que eu vou ficar acorrentada numa vida monótona. Sem cor. Uma vida sem vida. Parece que que eu não vou conseguir ser quem eu realmente sou, ou quem eu quero ser. Parece que eu vou ficar imóvel, num casulo, vendo o mundo caminhar, sem mim, atrofiada, sendo mais uma pessoa no mundo que não realizou seus sonhos. Eu tenho muito medo disso. Sinto como se todas as minhas ideias, meu planos, minhas possibilidades não passassem de sonhos distantes, que ficam cada vez mais longe com a passagem desses dias amargos. Coisas simples, coisas grandes. Grandes passos que precisam ser dados. Pequenos gestos que determinarão o quanto de felicidade se achará em mim. Ser psicóloga. Ter um carro e um salto para as conveniências e uma Custom e uma bota para os dias de liberdade. Aprender a falar francês, alemão, latim. Visitar os lugares mais bonitos do mundo, aqueles mais afastados e de culturas incríveis. Lugares que as pessoas não querem conhecer, porque tem medo do quão livre elas poderiam ser, se se livrassem desse mundo banal. Ter alguém para amar, que não me sufoque, que não me queira para si, que me ame. Lutar muay thai e acampar numa praia deserta ou numa montanha com trilhas. Ler e me emocionar com os livros e encher prateleiras com os melhores. Ir ao show dos meus artistas preferidos. Sair numa noite qualquer com as minhas melhores amigas e dividir com elas as coisas mais divertidas e as mais sérias. Ter um apartamento com gatinhos, uma mesa de escritor com canetinhas coloridas e uma resma de papel e um cabide para os casacos no canto da sala. Sinto como se eu não fosse capaz, nem digna. Como se eu tivesse fadada a uma vida medíocre, porque tudo isso é maior que eu. Não sei. Vontade de engolir o mundo. Medo de que o mundo me engula. Talvez, eu só esteja com medo de crescer,  de encarar o mundo como ele realmente é. Ultrapassar as barreiras e cair nas garras de toda maldade que há, mas nunca me alcançou. Talvez, eu esteja com medo de crescer e descobrir que não podemos ter tudo que a gente quer, no seu real sentido, muito além de inseguranças juvenis. Medo de me perder, antes mesmo de me completar... antes mesmo de ser eu."

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